24 de agosto de 2021 – A situação no Afeganistão foi debatida esta terça-feira, no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra. A alta comissária da ONU lembrou que o momento é crítico e que o povo afegão espera que o órgão defenda e proteja os seus direitos.
Segundo Michelle Bachelet, “é preciso prevenir abusos de direitos humanos de proporções ainda maiores”, após o movimento Talebã “ter capturado rapidamente a maior parte do país, incluindo a capital” Cabul, em 15 de agosto.
Restrição de movimento
A alta comissária mencionou o desespero dos civis e destacou que nas últimas semanas, o seu escritório recebeu relatos de violações e abusos.
Bachelet deu exemplos: “execuções de civis e de combatentes das forças nacionais afegãs; restrição dos direitos das mulheres de se movimentarem livremente e das meninas de frequentarem a escola; recrutamento de crianças para o combate e repressão de protestos pacíficos.”
Michelle Bachelet citou as mulheres, os jornalistas e a nova geração de líderes da sociedade civil que temem pelo seu futuro. Segundo ela, “as minorias religiosas e a diversidade étnica do Afeganistão também estão sob risco de violência e de repressão”, devido ao padrão de violações sérias ocorridas sob o regime do Talebã.
Promessas
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU garantiu que o seu escritório irá trabalhar, com urgência, para restabelecer uma maneira de monitorar as violações de direitos humanos no Afeganistão.
De acordo com ela, o Talebã divulgou comunicados prometendo respeitar e proteger os direitos humanos, se comprometendo especificamente “em respeitar o direito das mulheres de ir trabalhar e das meninas de irem para a escola”. O porta-voz do movimento também teria dito que não haverá represálias contra as pessoas que trabalham com o governo ou a comunidade internacional.
A alta comissária afirmou que o Talebã tem agora o ônus de transformar esses compromissos em realidade. Para Bachelet, ao buscar o controle do país, o movimento precisa garantir o respeito aos direitos humanos e fornecer serviços públicos essenciais e para todos, sem discriminação.
Linha Vermelha
A alta comissária recomenda fortemente ao Talebã a “adotar normas responsivas de governança e de direitos humanos e para restabelecer a coesão social e a reconciliação, por meio do respeito aos direitos de todos que sofreram com décadas de conflito.”
Michelle Bachelet disse ainda que “uma linha vermelha fundamental será o tratamento do Talebã a mulheres e meninas e o respeito aos seus direitos à liberdade de movimento, à educação, à expressão e ao emprego”.
Ela lembrou que gozar dos direitos humanos não pode ser uma questão que está sujeita à mudanças no controle de território ou à autoridade de facto. No Conselho de Direitos Humanos, Bachelet mencionou ainda uma série de avanços conquistados no Afeganistão nos últimos 20 anos. Por exemplo, em 2021, as mulheres chegaram a representar 27% dos membros do Parlamento e 3,5 milhões de meninas estavam na escola. Em 1999, nenhuma aluna podia frequentar o ensino secundário.
Ajuda humanitária
Segundo a alta comissária, esses “avanços significativos de direitos humanos alteraram mentalidades e mudaram realidades. Por isso, não serão apagados facilmente”, além de serem “essenciais para a trajetória futura do Afeganistão.
Bachelet pediu ainda a abertura de acesso para a assistência humanitária e a proteção dos profissionais que buscam entregar ajuda aos civis. Aos demais países, ela fez um apelo para a criação de caminhos seguros para migrantes e refugiados afegãos e para que aumentem a oferta de asilo e de programas de reassentamento.
Ao Conselho de Direitos Humanos, Michelle Bachelet pediu ação vigorosa devido à gravidade da situação e para estabelecer um mecanismo de monitoramento dos direitos humanos, em especial para verificar se o Talebã cumprirá com as promessas.
Fonte: ONU News
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