Mensagem da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, para o Dia Internacional da Mulher 2012
Mary Kini, Angela Apa e Agnes Sil pertencem a três tribos em guerra nas montanhas de Papua, em Nova Guiné. As leis tribais as proíbem de qualquer interação umas com as outras. Mas depois de anos de violência intertribal em seu município, elas avançaram sobre os tabus sociais e planejaram, em segredo, levar a paz a suas comunidades. Arriscando suas vidas, elas discutiram planos de paz enquanto faziam compras no mercado local, mobilizaram com sucesso outros para sua causa e saíram para o campo de batalha para levar mensagens de paz.
Essas mulheres que, desde então, criaram uma organização para promover a paz e dar fim à violência contra mulheres, que receberam amplo reconhecimento na região, exemplificam o tipo de trabalho crucial que as mulheres estão corajosamente realizando em pequenas e grandes comunidades, algumas vezes silenciosamente, outras de formas altamente visíveis, frequentemente diante de graves riscos, em todas as partes do mundo.
É um fato consumado que mulheres são mais frequentemente as primeiras a sofrer quando os direitos humanos básicos são ameaçados. Crises de alimentação, guerras e conflitos, mudança climática, crises econômicas e outras agitações sociais tendem a afetar desproporcionalmente as mulheres. Mas o que é reconhecido está muito aquém do que elas podem ser, e são: agentes poderosas para mudanças. Pode-se confiar que as mulheres enfrentam desafios aparentemente insuperáveis com grande força de espírito, criatividade e inteligência.
Neste ano, dado que celebramos o Dia Internacional da Mulher, eu convoco os governos, líderes comunitários e chefes de famílias pelo mundo a reconhecer e explorar o potencial enorme das mulheres para impactar positivamente o mundo ao seu redor. Esse é um chamado direcionado não apenas a uma região do mundo – é um chamado global porque o fracasso para aproveitar o potencial das mulheres é um problema global.
Estatísticas da ONU mostram que, até o ano passado, as mulheres ocupavam apenas 19,3% das cadeiras em câmaras legislativas pelo mundo. Notou-se no último relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que muitas mulheres candidatas a cargos políticos sofrem de escassez de cobertura da mídia e de aparições públicas. Na esfera econômica, apenas 12 das 500 empresas mais ricas do mundo têm mulheres em seu comando. Mulheres nas áreas rurais produzem de 60 a 80% da comida de países desenvolvidos, mas raramente têm direito a posse da terra onde cultivam. Números da Organização das Nações unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) mostram que, para cada 100 proprietários de terra, apenas 20 são mulheres.
Com muito poucas mulheres na política, com os números lamentavelmente insuficientes de mulheres líderes da indústria, as mulheres não estão participando de discussões decisivas em como responder às crises globais. Tal exclusão é o nosso próprio risco – a recusa em abraçar a igualdade de gênero já levou a vários flagelos, um dos exemplos mais trágicos sendo a propagação feroz do HIV/ AIDS.
É por isso, ecoando as vozes das ruas de muitas cidades pelo mundo, que devemos insistir em mudanças institucionais e estruturais que assegurem que mulheres sejam reconhecidas como cidadãs iguais na tomada de decisões. Isso se aplica particularmente em tempos de transição para os Estados.
Participação significativa requer que as mulheres sejam capazes de acessar informações relevantes e sejam empoderadas, através da educação e do acesso político, para dar contribuições. E por mulheres estou me referindo também a mulheres de grupos minoritários, pobres, idosas, mulheres com deficiência e outras mulheres vulneráveis. Devemos pensar sobre essas mulheres como possuidoras de direitos legítimos e futuras líderes.
O tema deste ano para o Dia Internacional das Mulheres, “Empoderar mulheres rurais: encerrar a fome e a pobreza”, enfatiza que os esforços no nível da comunidade local podem ter um impacto reverberante bem além. Apenas aproveitando o potencial das mulheres para mudanças efetivas, nós podemos esperar realizar a aspiração global de sociedades mais justas, onde os direitos humanos e a dignidade de cada mulher, criança e homem sejam respeitados.