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Brasil deve abandonar o “Marco Temporal” de uma vez por todas, diz especialista da ONU

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GENEBRA (11 June 2025) O Relator Especial das Nações Unidas sobre os direitos dos Povos Indígenas, Albert Kwokwo Barume, expressou profunda preocupação com o uso contínuo por parte do Brasil, da controversa tese do “Marco Temporal” para negar aos Povos Indígenas seus direitos à terra, territórios e recursos.

Em desdobramento recente, o Senado Federal aprovou o Projeto Decreto Legislativo nº 717/2024, que visa revogar o fundamento legal da demarcação de terras indígenas – artigo 2º do Decreto nº 1.775/1996 – e anular as demarcações das Terras Indígenas do Toldo Imbu e Morro dos Cavalos, em Santa Catarina. O Projeto tramita agora na Câmara dos Deputados.

“Essa medida legislativa reforça a desacreditada doutrina do ‘Marco Temporal’, que restringe os direitos territoriais dos Povos Indígenas às áreas ocupadas de forma física e permanentemente a partir de 5 de outubro de 1988, data da promulgação da atual Constituição brasileira”, afirmou Barume. “Trata-se de um retrocesso grave que mina os direitos dos Povos Indígenas, a proteção ambiental e os esforços de combate à crise climática. Peço aos parlamentares que não aprovem o referido Projeto.”

O Supremo Tribunal Federal já declarou a inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal. Apesar disso, o decreto proposto ameaça comprometer o trabalho da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), que desempenha um papel vital na demarcação de terras indígenas e deve contar com o pleno apoio no cumprimento de sua missão.

“Esta é a quarta vez em quatro anos que este mandato manifesta publicamente preocupação com essa questão”, observou Barume , relembrando declarações emitidas em 2021, 2023 e 2024. “O tema também foi objeto de comunicações formais para o Governo brasileiro e deve ser motivo de grande atenção para a comunidade internacional.”

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos também já alertou sobre os riscos da tese do Marco Temporal, que viola tratados internacionais como a Convenção nº 169 da OIT e contraria a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

“O Marco Temporal não apenas compromete a segurança jurídica e os direitos territoriais dos Povos Indígenas, como também alimenta a violência rural e a degradação ambiental”, enfatizou Barume. Além disso, representa uma ameaça à segurança, à saúde e às práticas culturais dos Povos Indígenas, contribuindo para um processo lento e doloroso que pode levar ao seu extermínio.

Peço ao Brasil que abandone o Marco Temporal de uma vez por todas. “Como afirmou o Secretário-Geral da Nações Unidas, António Guterres, os direitos dos Povos Indígenas são inegociáveis.”

FIM

*O especialista: Albert K. Barume , é o Relator Especial sobre os direitos dos Povos Indígenas

Os Relatores Especiais/Peritos Independentes/Grupos de Trabalho são especialistas independentes em direitos humanos nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Em conjunto, são conhecidos como Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos. Os especialistas dos Procedimentos Especiais atuam de forma voluntária; não são funcionários da ONU e não recebem remuneração pelo seu trabalho. Embora o Escritório de Direitos Humanos da ONU atue como secretaria dos Procedimentos Especiais, os especialistas exercem suas a título individual e de maneira independente de qualquer governo ou organização, incluindo o Escritório de Direitos Humanos e as Nações Unidas. As opiniões expressas são exclusivamente do autor e não refletem necessariamente as posições das Nações Unidas (ONU) ou do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Observações e recomendações específicas por país, feitas pelos mecanismos de direitos humanos da ONU, incluindo os Procedimentos Especiais, os órgãos de tratados e a Processo de Revisão Periódica Universal, podem ser encontradas no Índice Universal de Direitos Humanos https://uhri.ohchr.org/en/

Direitos Humanos da ONU, página do país – https://www.ohchr.org/en/countries/brazil

da mídia, entre em contato com: [email protected]

Para perguntas da mídia relacionadas a outros especialistas independentes da ONU, entre em contato com Maya Derouaz ( [email protected] ) ou Dharisha Indraguptha ( [email protected] )

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