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ARTIGO | Os desafios do racismo e um sopro de esperança

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Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, em 2015, em Brasília.
  • La pandemia de COVID-19 puso de relieve los desafíos relacionados con el racismo, como la desigualdad en el acceso a la salud, a la educación de calidad y al trabajo digno.
  • En Brasil, la historia de colonización y tráfico de personas escalvadas se refleja en una población compuesta por más de un 50% de personas afrodescendentes y 305 pueblos indígenas, los cuales enfrentan una serie de vulnerabilidades.
  • En artículo de opinión, Jan Jarab, representante de ONU Derechos Humanos en América del Sur y Marlova Jovchelovitch Noleto, directora y representante de UNESCO en Brasil y Coordinadora Residente a.i. de la ONU en Brasil, destacan cómo la juventud tiene un papel fundamental en el combate al racismo.
  • Lee el artículo completo (en portugués):

O peso da herança de discriminação racial — incluindo a colonização e o genocídio de povos indígenas nas Américas, o tráfico transatlântico, a escravização das pessoas afrodescendentes e a segregação racial— geram efeitos até hoje nas oportunidades e na garantia dos direitos humanos no mundo. O Brasil não é exceção: o país viveu um histórico de colonização e tráfico de pessoas escravizadas intenso, o que se reflete em uma população composta por mais de 50% de afrodescendentes e 305 povos indígenas. Esses grupos acumulam uma série de vulnerabilidades em decorrência do racismo e demandam atenção específica do poder público, da sociedade civil e de organizações internacionais.
 
O ano de 2020, lamentavelmente, mostrou com crueldade os impactos do racismo. Enfrentamos uma pandemia e uma crise sanitária com efeitos devastadores para as populações em situação mais vulnerável, como bem lembrou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michele Bachelet. Ao mesmo tempo, observamos o debate sobre racismo sendo recolocado na agenda global, a partir do assassinato de George Floyd por policiais nos Estados Unidos. 
 
No Brasil, o assassinato do João Alberto Freitas às vésperas do Dia da Consciência Negra evidenciou mais uma vez a situação do racismo, sobretudo do racismo institucional. De acordo com o Atlas da Violência de 2020, 75,7% das pessoas assassinadas são negras. Jovens negros periféricos estão entre as principais vítimas de homicídio. Jovens indígenas enfrentam estigmatização e discriminação ao saírem de suas aldeias para acessar serviços públicos de educação superior ou empregos e, frequentemente, têm seu pertencimento étnico-racial questionado.
 
Os desafios acumulados por causa do racismo são muitos: desigualdades no acesso à saúde, à educação de qualidade, a um trabalho digno, à moradia adequada, à terra, além do efeito desproporcional de pobreza, insegurança alimentar, criminalização e insegurança pública. A pandemia da COVID-19 ressaltou essas diferenças significativas de acesso a direitos humanos entre grupos raciais marginalizados, demonstrando o impacto do racismo, principalmente para pessoas afrodescendentes, quilombolas e povos indígenas, os mais afetados negativamente neste momento de crise sanitária.
 
Uma pesquisa feita pelos institutos Data Favela e Locomotiva no início deste ano mostrou que 67% dos moradores de favelas são negros. Como a maioria dos serviços de saúde de mais qualidade fica localizada nos bairros mais centrais das cidades, essa população tem acesso limitado a tais serviços, colocando essas pessoas em maior risco, visto que não recebem o tratamento adequado para a doença.
 
O ressurgimento de grupos neonazistas e supremacistas brancos tem encontrado na internet uma nova fronteira para disseminar discurso de ódio e discriminação racial. As novas tecnologias possibilitam que esses conteúdos se disseminem com muita rapidez, sem que haja ainda ferramentas adequadas para combater esse fenômeno. Todos esses casos demonstram o quanto o enfrentamento ao racismo permanece um desafio atual e dinâmico, que não diz respeito somente às populações que sofrem diretamente seus efeitos negativos, mas sim a todas as pessoas.
 
Nesse contexto, a juventude no Brasil e no mundo tem exercido um papel importante, principalmente pelo protagonismo nas redes sociais e outras ferramentas que potencializam sua mobilização e discurso. Jovens indígenas atuando em redes, ou mesmo de forma independente, têm se engajado na afirmação da diversidade da identidade indígena, reiterando e reivindicando seus direitos humanos, principalmente o direito à terra e ao meio ambiente e à participação política.
 
A juventude negra, também em coletivos ou de forma independente, tem fomentando a discussão sobre incidência política, educação, violência policial, ao passo que incrementa o espaço cívico para debates plurais e abertos sobre o racismo estrutural e institucional. As juventudes indígenas, negras, ciganas, de ascendência asiática têm se envolvido na conscientização e proposta de uma postura antirracista nos mais diversos espaços: cultura, meio digital, saúde, educação, meio ambiente e, principalmente, na luta por direitos humanos.
 
O enfrentamento ao racismo pode ter uma nova fase a partir de agora, com todas as lições deixadas pela pandemia de COVID-19. Esta nova fase deve incluir cada vez mais ações estruturais e programáticas, que incidam na raiz das desigualdades raciais. Exemplo disso é a formação de uma comissão de 20 juristas negras e negros, na Câmara dos Deputados, instalada oficialmente m 21 de janeiro deste ano, para examinar a legislação brasileira sobre racismo.
 
A criação de mais espaços de participação diversa e popular – especialmente para jovens – é imprescindível para ampliar o espaço cívico, garantir a visibilidade das populações e possibilitar o enfrentamento ao racismo em suas múltiplas formas. O empoderamento e o envolvimento das novas gerações na tomada de decisões importantes para a sociedade é um sopro de esperança com grande potencial para gerar mudanças no presente, mas também para reconstruirmos um futuro melhor, onde ninguém seja deixado para trás.

También disponible en el sitio de la ONU en Brasil

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